Arquivo mensal: outubro 2020

Novo Livro: “Pedagogia Social e Juventudes” (com apresentação de G. Caliman)


A Pedagogia Social tem se manifestado como uma teoria geral da educação social. Enquanto teoria geral ela se dedica à sistematização de conhecimentos que lhe dão uma base epistemológica e interpretativa dos fenômenos ligados à educação, sobretudo no âmbito social, seja ela aplicada na área escolar ou fora da escola. Enquanto educação social, é uma ciência pratica voltada a intervir sobre realidades, sobretudo aquelas ligadas à dimensão social da educação como a formação a cidadania, a prevenção de situações de risco, ao reforço das condições de resiliência, à difusão de culturas de paz, à gestão de conflitos, à difusão e aplicação dos principios dos direitos humanos.

Souza Neto, Silva e Moura (2011) já sinalizavam, na organização de “Pedagogia Social – Vol. 2 – Contribuições para uma teoria geral da educação social”, como “a ressignificação, levada a cabo no Volume 1 da Pedagogia Social, possibilitou classificar as diversas praticas alternativas a educação escolar em três domínios, segundo os recursos cognitivos que ela mobiliza: sociocultural, sociopedagógico e sociopolítico”. A partir da definição desses domínios que foram amplamente debatidos nos diversos Congressos Internacionais de Pedagogia Social realizados no Brasil, os autores confirmam como tal posicionamento passa a orientar, simultaneamente, a formação, a pesquisa e o campo de trabalho da educação social, constituindo-se em um corte epistemológico capaz de dialogar sem conflitos com a educação escolar e, ao mesmo tempo, resolvendo a ambiguidade em relação ao conceito educação não formal. 

A partir do momento em que assumimos a concepção acima, a Pedagogia Social não se confunde injustamente com uma pedagogia para os pobres e desamparados. Esse seria o risco de assumirmos uma classificação entre educação formal e educação não formal: de acreditar que a formal seja para a “boa pedagogia” e a não formal para os que não tiveram a possibilidade de estudar em boas escolas e ficariam na dependência da assistência social.

A partir desse balizamento epistemológico ela se define como uma pedagogia para os seres humanos: onde houver um ser humano, seja ele na escola, nas classes abastadas, em situações de risco e vulnerabilidade, existe um espaço de atuação para a dimensão social da educação. Aliás, no mundo em que vivemos perguntamo-nos sempre o porquê de a Pedagogia Social ser tão desenvolvida em sociedades abastadas como a Finlândia, a Alemanha, a Espanha, Portugal, Itália. A Universidade Pontifícia Salesiana de Roma hoje tem cerca de 200 alunos inscritos no Programa de Bacharelado, Mestrado e Doutorado em Pedagogia Social. Talvez essa demanda pela Pedagogia Social em países desenvolvidos querem nos alertar para a ideia de que os seres humanos precisam aprender a se relacionar culturalmente, politicamente e pedagogicamente como seres em crescimento, independentemente da sua condição social.

Podemos fazer duas ótimas releituras ao longo do tempo. Uma de Dom Bosco, no século XIX, e outra de Paulo Freire no século XX. Dom Bosco viveu em um período particularmente caracterizado pela revolução industrial. Muitos eram os jovens abandonados a própria sorte e explorados por patrões perversos. E certo que Dom Bosco nunca ouviu falar em “pedagogia social”, mas nos podemos fazer uma releitura histórica de sua pratica pedagógica, identificando não com muita dificuldade, principios pedagógicos que hoje inspiram a educação social. Seu humanismo pedagógico é composto por elementos como a religião, a razão, o carinho e o trabalho. O primeiro elemento, a religião, tem a ver com o sentido da vida, a descoberta do transcendente, a construção de um projeto de vida. A razão – e Dom Bosco viveu na época da razão – mostra a tendência da busca pelo conhecimento, pela verdade, pela racionalidade, pela descoberta do adolescente e jovem como um sujeito e não como objeto a ser moldado; pela consciência crítica voltada à administração dos riscos e vulnerabilidades vividos. A dimensão afetiva (carinho) tende a sintonizar-se com a linguagem mais conhecida pelos jovens, quando tudo passa primeiro pelo coração e, somente assim, chega à razão. A dimensão do trabalho, por sua vez, é operacional: abre caminhos e espaços para a participação no mundo profissional e produtivo e, portanto, torna possível a construção do projeto de vida.

No século XX, outra releitura necessária e inspiradora é a que podemos fazer a partir de Paulo Freire. Estamos em tempos em que precisamos resgatá-lo como patrono – talvez sem o saber – da pedagogia social dos nossos tempos. Uma releitura de sua prática pedagógica nos permite intuir em seu método educativo utilizado para a alfabetização não uma aprendizagem de letras e números. A leitura que Freire sugeria era da realidade, do mundo em que se vivia. Uma leitura que ajudasse as pessoas a tomar consciência dos próprios riscos. Certamente Paulo Freire não foi um teorizador da Pedagogia Social, mas o seu pensamento pedagógico inspira muitas das metodologias que são utilizadas na prática pedagógica de quem atua na Educação Social. E se presta como referencial teórico e cientifico para a construção de uma Teoria da Educação Social.

Acredito que a Professora Sueli Pessagno-Caro (In Memoriam: a quem é dedicado este volume) tinha como balizamento, de um lado, a educação social inspirada em Dom Bosco e, de outro, o referencial teórico e científico de uma Pedagogia Social a ser redescoberta a partir de Paulo Freire. Mas seu legado fica sobretudo ligado à sua atuação na sistematização de uma Pedagogia Social brasileira tão bem desenvolvida a partir dos inícios do terceiro milênio em torno dos Congressos Internacionais de Pedagogia Social.

O presente livro discorre sobre temas muito ricos para a educação social. Alguns temas podem ser identificados como pertencentes: ao domínio sociocultural, como as relações de gênero, a juventude entre culturas e projeto de vida; ao domínio sociopolítico, como a formação social dos indivíduos, o afroempreendedorismo; ao domínio sociopedagógico como o mundo do trabalho, da arte-educação presente na capoeira e na música rap, e a educação sociocomunitária. É uma justa homenagem à Professora Sueli Pessagno-Caro.

Roma, 10 de maio de 2020. – Prof. Dr. Geraldo Caliman – Coordenador da Catedra Unesco de Juventude, Educação e Sociedade – Universidade Catolica de Brasilia.

 

 

Depoimento da UNESCO/Paris sobre a Cátedra UNESCO/UCB


O Prof. Dr. Marco Antonio Rodrigues Dias deu um belo depoimento sobre a atuação da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade, coordenada pelo Prof. Geraldo Caliman com a colaboração do Prof. Célio da Cunha. O Prof. Marco Antonio foi, nos anos 90, o criador do projetos das Cátedras UNESCO, quando atuava como Diretor do Ensino Superior na sede da Unesco Paris.
Clique abaixo para ver o extrato de dois minutos no contexto de uma fala de 45 minutos do Prof. Marco Antonio sobre sustentabilidade e educação.

Coordenador da Cátedra UNESCO de Juventude profere palestra para estudantes da USP


No último dia 05 de outubro, o professor Dr. Geraldo Caliman, Coordenador da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da UCB, proferiu palestra para mestrandos e doutorandos do Programa de Educação da USP. O tema abordado foi ligado à Pedagogia Social. Professor Geraldo Caliman é mestre e doutor em educação e está fazendo seu segundo pós doutorado na Pontifícia Universidade Salesiana de Roma (2020 a 2021), onde também já atuou como professor e foi coordenador do Programa de mestrado e doutorado em Pedagogia Social.  Tem experiência na área de Educação, Sociologia da Educação, com ênfase em Pedagogia Social, e temas correlatos como Educação Social, Exclusão Social, Prevenção, Sociologia do Desvio e da Delinquência, Delinquência Juvenil.

Pedagogia Social e Juventudes (no prelo)


 

EVANGELISTA, F.; MORAES, E.L.F. de; SILVA, O.M. da; REIS, D.M. (Orgs.). Pedagogia social e juventudes. São Paulo: Expressão 2020. Com apresentação de Geraldo Caliman, o livro discorre sobre temas muito ricos para a educação social. Alguns temas podem ser identificados como pertencentes: ao domínio sociocultural, como as relações de gênero, a juventude entre culturas e projeto de vida; ao domínio sociopolítico, como a formação social dos indivíduos, o afroempreendedorismo; ao domínio sociopedagógico como o mundo do trabalho, da arte-educação presente na capoeira e na música rap, e a educação sociocomunitária. É uma justa homenagem (in memoriam) à Professora Sueli Pessagno-Caro, que tinha como balizamento, de um lado, a educação social inspirada em Dom Bosco e, de outro, o referencial teórico e científico de uma pedagogia social a ser redescoberta a partir de Paulo Freire. Mas seu legado fica sobretudo ligado à sua atuação na sistematização de uma Pedagogia Social brasileira tão bem desenvolvida a partir dos inícios do terceiro milênio em torno dos Congressos Internacionais de Pedagogia Social.