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Lançamento: Direitos Humanos na Pedagogia do Amanhã


Pedagogia do Amanha

Quando um adolescente quebra a vidraça da escola é porque essa vidraça já quebrou há muito tempo dentro dele. A primeira tendência das pessoas que observam certos comportamentos dos jovens é pela punição. Infelizmente as pessoas têm resistência apensar no que leva, influencia, provoca essas reações. Antes de quebrarem os vidros de uma janela provavelmente já se quebraram as oportunidades daquele adolescente crescer em uma família, em um ambiente, em uma cultura apropriadas para o ajudarem no processo de crescimento e de formação para a vida para a qual se prepara. Por isso a insistência em falar em “Direitos” Humanos. Não é que os acadêmicos e intelectuais se esqueçam do valor dos “Deveres”; mas é preciso lembrar para a sociedade que alguém está pisando no calo de muitos jovens e se eles reagem, às vezes até agressivamente, é porque uma razão existe. Então, o que custa refletir sobre o que está dando errado na educação dos adolescentes e jovens, antes mesmo de manda-los para uma prisão?

De que será feita a pedagogia de amanhã? Qual o espaço dado à Cidadania e aos Direitos Humanos nessa pedagogia? O novo livro organizado por Geraldo Caliman, Coordenador da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da Universidade Católica de Brasília tenta responder a essas perguntas. E para tanto convidou nove estrangeiros e quatro brasileiros, todos especialistas em educação e em direitos humanos.

Num primeiro momento quem responde é Maurice Tardif, um dos maiores especialistas mundiais da educação, da Universidade de Quebec, em sua magnífica contribuição. Ele prevê algumas tendências da Educação nesse século: pode-se pensar que o processo de racionalização da pedagogia continuará, que a ciência se fará cada vez mais presente, que a criança será cada vez mais analisada minuciosamente, que a relação professor-aluno na sala de aula será ainda mais investigada, que as tecnologias buscarão ocupar um lugar maior e que os promotores de inovações pedagógicas de todo tipo tentarão encontrar clientes. O que parece ainda mais crucial é que, no contexto da mundialização, a educação é mais do que nunca percebida como um vetor importante de desenvolvimento econômico e social.

Em um segundo momento do livro, são focalizados os direitos humanos num mundo da sociedade do consumo, dos mercados: como e porque os países promovem e estão preocupados com a educação e a difusão dos direitos humanos.

Uma terceira sessão da presente investigação focaliza os resultados das diversas pesquisas que se desenvolvem em torno de um projeto chamado Percepções de Justiça e Direitos Humanos de Grupos Sociais Específicos, desenvolvido por várias Universidades: na Universidade Católica de Brasília (UCB), na Universidade Autônoma de Querétaro (México) e na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), na Universidade do Minho (Portugal) e na Universidade Fernando Pessoa (Portugal).

Geraldo Caliman, que coordena uma Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da UCB, escreve sobre as manifestações dos jovens ocorridas no ano passado. No centro está a explosão das manifestações de junho de 2013, em que os jovens exprimiram sua indignação. Daí o título do artigo Da indignação à participação”. Procura sublinhar a importância da construção de vias de participação da juventude na vida social, econômica e política. O artigo incorpora resultados de uma pesquisa chamada Juventude universitária e direitos humanos e sintetiza as opiniões da juventude universitária quanto à participação na vida social, econômica e política.

Segundo Caliman, a indignação é uma virtude que tende a emergir quando a dignidade humana está ameaçada. É uma tentativa de expressão de um mal-estar vivido por quem se sente excluído de processos que a sociedade promete a todos os cidadãos, mas que acaba garantindo a poucos. Às vezes a exclusão é de indivíduos e então eles reagem com expressões individuais a este mal-estar: entre as expressões, encontramos aquelas de tipo violento, nos limites entre a incivilidade e a delinquência, mas, quando a exclusão é coletiva, gera avalanches de protestos e manifestações, muitas vezes irracionais e desorganizadas: o sujeito e o grupo social agem no desespero, para encontrar vias alternativas de comunicação, visto que as vias normais estão viciadas, interrompidas ou simplesmente bloqueadas.

Novas vias de participação devem ser construídas mediante a consciência e a administração dos riscos e o vislumbrar de motivações, de perspectivas e de sentidos, orientados para a transformação social e a construção de uma sociedade mais justa com a participação dos jovens. Melhor ainda quando tal participação é programada por atacado, por meio de políticas públicas que viabilizem e canalizem o potencial construtivo da juventude.

O livro foi publicado pela Editora Liber Livro. Tem uma capa e diagramação muito bonitas. Agradável de se ler. Ele é escrito sobretudo para estudantes universitários que se preocupam com a temática dos Direitos Humanos, Educação à Cidadania e Responsabilidade Social. Caliman, que é o organizador da obra, se dedica aos estudos da Pedagogia Social e da Educação Social, sobretudo da Educação de jovens que têm problemas com a lei, a delinquência, a formação profissional.  CALIMAN, G. (Org.). Direitos Humanos na Pedagogia do Amanhã. Brasília: Líber/Cátedra UNESCO-UCB, 2014, 250 p.